Nos últimos meses o país ampliou seu estoque de gás para 85%. A meta era alcançar 95% em novembro, mas com o corte do Nord Stream 1, dificilmente isso será possível. Em agosto, o presidente da agência reguladora de energia da Alemanha, Klaus Mueller, disse que mesmo com 100% de estoque, uma interrupção total do fornecimento de gás russo esvaziaria a reserva em dois meses e meio.
— Este novo pacote de alívio não muda o fato de que a Alemanha provavelmente entrará em recessão nos próximos meses — afirmou o economista-chefe do Commerzbank, Joerg Kraemer, à Reuters.
Em Frankfurt, a Bolsa caiu 2,22%, em Milão, a queda foi de 2,01% e, em Paris, o recuo foi de 1,2%. O euro encerrou o dia com queda de 0,24%, a US$ 0,993, após cair até 0,7%, para US$ 0,988, seu nível mais baixo desde 2002.
Semana passada, a estatal russa Gazprom interrompeu o suprimento do Nord Stream 1 citando falhas técnicas. Seria feita manutenção por três dias. Na sexta, porém, a Gazprom disse que não reativaria o duto, alegando ter identificado vazamento de óleo em uma turbina que ajuda a bombear o combustível, e não informou nova data para voltar a funcionar.
O anúncio ocorreu no mesmo dia em que o G7, grupo que reúne as economias mais avançadas, disse que limitaria o preço do petróleo russo.
A Gazprom alega que as turbinas são de fabricação alemã e canadense, e que as sanções dificultam o reparo. Há semanas, uma peça está presa em um limbo na Alemanha, com Moscou e Berlim discutindo os documentos necessários para o transporte. O governo do chanceler Olaf Scholz acusa Moscou de usar o combustível como “arma de guerra”.
Dmitry Peskov, porta-voz do presidente Vladimir Putin, atribuiu os problemas às sanções, em declaração do Kremlin que associa diretamente as restrições à abertura das torneiras. O gasoduto corta o Mar Báltico, ligando a russa São Petersburgo à Alemanha e supria, sozinho, 15% do gás consumido pelos europeus antes de o conflito eclodir.
Os preços do gás na Europa saltaram até 35% ontem. Em um ano, o valor do produto a clientes europeus saltou 114%, segundo a consultoria VaasaETT.
— Os problemas no bombeamento de gás surgiram por causa das sanções que países ocidentais introduziram contra nosso país e várias empresas — disse Peskov. — Não há outras razões que possam ter causado esse problema.
No mercado, a expectativa é que o agravamento da crise de energia na Europa eleve os riscos para uma economia global que já enfrenta inflação alta e persistente, além de uma onda de altas de juros. Na Europa, o aprofundamento do choque energético pressionaria mais a inflação, já que encarece os custos de produção e limita a produção de mercadorias.
No mês passado, a inflação da zona do euro atingiu novo recorde, com alta de 9,1%, bem longe da meta de 2% do Banco Central Europeu.
— Tendemos a ter uma escalada inflacionária. Não há fontes de substituição imediatas do fornecimento de gás russo. Energia é insumo básico da economia. Quando há um problema de natureza energética, tende a acumular problemas em cascata — afirmou o especialista do Núcleo de Defesa e Segurança Internacional do Cebri, Ronaldo Carmona. — A Alemanha é o coração industrial da Europa e, hoje, você vê fábricas fechando.
O Banco Central Europeu (BCE) se reúne na quinta-feira. Formuladores de política monetária avaliam que, mesmo com a piora do cenário, ele vai subir os juros, para manter as expectativas de inflação sob controle.
— A inflação tem de ser o foco principal, ou a economia sofrerá muito mais no longo prazo — afirmou Craig Erlam, analista sênior de mercado da Oanda, que viu nas declarações do governo russo risco maior de uma crise de energia no inverno, incluindo racionamento e apagões.
Ministros de Energia da região se reúnem na sexta para discutir opções que podem ir desde um teto de preço ao gás importado a linhas emergenciais de crédito e taxação de outras fontes de energia para financiar pacotes de socorro.