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Risco de recessão cresce na Europa, após ameaça russa de não retomar fornecimento de gás

Escrito por   em 06/09/2022

 

A declaração da Rússia de que não retomará o fornecimento de gás para a Europa pelo gasoduto Nord Stream enquanto as sanções pela invasão da Ucrânia não forem revistas acendeu o sinal de alerta nos mercados. A maior parte das Bolsas na região encerrou em baixa, e o euro chegou a ser cotado abaixo de US$ 0,99 durante o pregão, o menor patamar em 20 anos. A leitura de economistas é que a crise tem potencial para deixar a Europa à beira da recessão.

 

 

A avaliação é que o choque energético coloca o continente diante de um dilema: pressiona os preços, no momento em que a inflação atinge o maior patamar em décadas. Isso aumenta a necessidade de subir juros e mina a capacidade de recuperação da economia.

 

Grã-Bretanha já trabalha com a hipótese de apagões no inverno devido à escassez de gás — Foto: Bloomberg

 

Enquanto uma solução para o impasse parece longe de ser alcançada, os países da região estão oferecendo medidas de ajuda em série para enfrentar a alta nos preços da energia. Somadas, as iniciativas já chegam a € 375 bilhões.

 

Somente no domingo, a Alemanha anunciou que vai destinar € 65 bilhões para o auxílio de empresas e da população. O total em pacotes de socorro já chega a € 95 bilhões.

 

Considerando estas cifras, desde que foi deflagrada a guerra da Ucrânia, há pouco mais de seis meses, a Alemanha já gastou praticamente um terço dos recursos empregados para lidar com o impacto da pandemia ao longo de dois anos (€ 300 bilhões).

O país tem corrido para instalar terminais de gás natural liquefeito, buscando fornecedores. Ontem, anunciou que pretende manter duas de suas três usinas nucleares como reserva. Elas parariam de funcionar no fim do ano, como parte do compromisso de abandonar esta fonte de energia, mas devem ser mantidas para garantir o suprimento de eletricidade no inverno.

 

 

‘Escalada inflacionária’

 

Nos últimos meses o país ampliou seu estoque de gás para 85%. A meta era alcançar 95% em novembro, mas com o corte do Nord Stream 1, dificilmente isso será possível. Em agosto, o presidente da agência reguladora de energia da Alemanha, Klaus Mueller, disse que mesmo com 100% de estoque, uma interrupção total do fornecimento de gás russo esvaziaria a reserva em dois meses e meio.

 

— Este novo pacote de alívio não muda o fato de que a Alemanha provavelmente entrará em recessão nos próximos meses — afirmou o economista-chefe do Commerzbank, Joerg Kraemer, à Reuters.

 

turbulências adiante — Foto: Criação O Globo

 

Semana passada, a estatal russa Gazprom interrompeu o suprimento do Nord Stream 1 citando falhas técnicas. Seria feita manutenção por três dias. Na sexta, porém, a Gazprom disse que não reativaria o duto, alegando ter identificado vazamento de óleo em uma turbina que ajuda a bombear o combustível, e não informou nova data para voltar a funcionar.

 

O anúncio ocorreu no mesmo dia em que o G7, grupo que reúne as economias mais avançadas, disse que limitaria o preço do petróleo russo.

 

A Gazprom alega que as turbinas são de fabricação alemã e canadense, e que as sanções dificultam o reparo. Há semanas, uma peça está presa em um limbo na Alemanha, com Moscou e Berlim discutindo os documentos necessários para o transporte. O governo do chanceler Olaf Scholz acusa Moscou de usar o combustível como “arma de guerra”.

 

Dmitry Peskov, porta-voz do presidente Vladimir Putin, atribuiu os problemas às sanções, em declaração do Kremlin que associa diretamente as restrições à abertura das torneiras. O gasoduto corta o Mar Báltico, ligando a russa São Petersburgo à Alemanha e supria, sozinho, 15% do gás consumido pelos europeus antes de o conflito eclodir.

 

Os preços do gás na Europa saltaram até 35% ontem. Em um ano, o valor do produto a clientes europeus saltou 114%, segundo a consultoria VaasaETT.

 

— Os problemas no bombeamento de gás surgiram por causa das sanções que países ocidentais introduziram contra nosso país e várias empresas — disse Peskov. — Não há outras razões que possam ter causado esse problema.

 

No mercado, a expectativa é que o agravamento da crise de energia na Europa eleve os riscos para uma economia global que já enfrenta inflação alta e persistente, além de uma onda de altas de juros. Na Europa, o aprofundamento do choque energético pressionaria mais a inflação, já que encarece os custos de produção e limita a produção de mercadorias.

 

No mês passado, a inflação da zona do euro atingiu novo recorde, com alta de 9,1%, bem longe da meta de 2% do Banco Central Europeu.

 

— Tendemos a ter uma escalada inflacionária. Não há fontes de substituição imediatas do fornecimento de gás russo. Energia é insumo básico da economia. Quando há um problema de natureza energética, tende a acumular problemas em cascata — afirmou o especialista do Núcleo de Defesa e Segurança Internacional do Cebri, Ronaldo Carmona. — A Alemanha é o coração industrial da Europa e, hoje, você vê fábricas fechando.

 

O Banco Central Europeu (BCE) se reúne na quinta-feira. Formuladores de política monetária avaliam que, mesmo com a piora do cenário, ele vai subir os juros, para manter as expectativas de inflação sob controle.

 

— A inflação tem de ser o foco principal, ou a economia sofrerá muito mais no longo prazo — afirmou Craig Erlam, analista sênior de mercado da Oanda, que viu nas declarações do governo russo risco maior de uma crise de energia no inverno, incluindo racionamento e apagões.

Ministros de Energia da região se reúnem na sexta para discutir opções que podem ir desde um teto de preço ao gás importado a linhas emergenciais de crédito e taxação de outras fontes de energia para financiar pacotes de socorro.

 

Fonte: https://oglobo.globo.com/

 

 

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